quarta-feira, agosto 17, 2005

espaço?!

Hj as luzes não ascenderam
Os brilhos não ofuscaram
As flores não renasceram
E o céu não azulou

A escuridão predominante
Minha mente bloqueou
Por menos de um instante
Penso que o mundo acabou

As pernas vacilam
Os olhos não sentem
As mãos não me guiam
Por esse espaço latente

Não há cima nem baixo
Nem gato e sapato
Paredes, nem chão
Só imensidão...

E eu perdida não sei onde
Se na terra ou no ar
No fogo ou no mar
Sem pressão
Sem impressão

Não sei se flutuo ou vôo
Mas eu vou
Se ando ou nado
Não é nada...

E nesse não sei o que
Não sei como
Nem pra onde...

Só me resta aguardar...

E aguardar...

Notícias daquele lugar!

segunda-feira, agosto 15, 2005

a-corda

Uma corda circunda meu pescoço...
Uma corda grossa, áspera e sem esforço,
Espera as ordens de chutar ao banco
E me despencar do barranco.

Ô corda infame
Como cobra inane
Encolhidinha à espera da sorte
E da comida pra dar o bote

E vem como quem não quer nada
Pra não me deixar apavorada
Desce pelos meus cabelos
Tremendo-me os joelhos

Espirais soltos no ar
Em lentas curvas a pousar
Delicadamente sobre minha pele
Sem se mostrar que fere

Mais repele...
Toda a tentativa frustrada de evitar o nó
Que se forma a cada volta

Apertando a maçã proibida
Aquela q palpita
Quando o ardor é suficiente
Pra permitir q a dor escape pelos poros
Quando a boca não consente...

terça-feira, agosto 02, 2005

pacotinho

Numa certa tarde de domingo, alguém bate à minha porta...
São toques leves, discretos, de quem não quer ser percebido à sua volta.
Ou que hesita se realmente deve bater ou não...

Mas bateu! Deixou algo no batente, virou e se foi... Não sei dizer se olhou pra trás. Mas enfim, de que importa isso realmente? Olhar ou não pra trás? Já estava feito!

E eu, em luta contra a letargia q insiste em me consumir a cada dia, levantei de onde estava e a passos lentos e dolorosos, abri a porta que iria permitir que um pouco de luz adrentasse meu recinto.

E meio q sem saber, deixei um facho entrar sorrateiramente. Mas ele naum veio só. Trouxe consigo um som diferente do que percebia trancada em meu quarto. Um som humano... um som.. emotivo... um choro... um choro de criança.

E assim, estimulada pelo movimento natural e habitual de olhar para meu próprio umbigo, vislumbrei aos meus pés um pacotinho bem miudinho... enrolado em mil lençóis brancos e perfumados, aninhados numa pequena e improvisada cesta de vime... criança linda, muito pequena, que me pedia ajuda.

Mas eu via apenas um ser voluntarioso, independente, cheio de si e que estava ali para me ajudar a olhar pra fora do quarto. Achei q havia chegado a hora de sair do meu estado de dormência para conhecer o mundo...

E assim, foi!

Até qd comecei a deixar que as vontades da criança dominassem os meus passos... que os papéis se invertessem. Ela mandava em mim. Se saía na rua era pra levar-lhe para passear, se ia ao mercado era para comprar-lhe algo, se cozinhava era pra matar-lhe a fome... e eu, como nunca tivera vontade própria, nunca achei que tivesse fazendo algo errado.

E nesse novo vício aparentemente libertador, não lembrei de mim, como nunca havia lembrado.

Relapsamente, não lembrei que aquele ser era apenas uma criança...

que precisava de ajuda e orientação...
que precisava de carinho e compreensão...
de sim e de não!...

E o pior de tudo é que esqueci de lembrar que quem é mais criança sou eu...
E esquecendo de me mostrar, naum lembrei de procurar um ombro pra chorar...

E chorar...
E chorar...
E chorar...

Até alguém me ninar...